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Quinta, 12 Abril 2018 14:15

À revista ÉPOCA

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NOTA DE REPÚDIO

À revista ÉPOCA

Brasília, 2 de abril de 2018

Prezados editores:

Gostaríamos de expressar nosso repúdio à matériaO novo azulzinho, publicada pela revistaÉpocano último fim de semana.

Constatamos, com perplexidade, que o texto envereda por um terreno minado de insinuações, julgamentos e estigma – e que confunde o leitor com a desinformação.

A principal premissa da matéria –de que a profilaxia pré-exposição ao HIV (PrEP) levaria ao abandono do uso do preservativo como forma de prevenção ao HIV– não encontra respaldo em nenhum estudo científico ou nas evidências colhidas por respeitados centros de excelência científica no Brasil e no mundo.

Ademais, ao insinuar quegrupos de risco– termo felizmente em desuso desde a década de 1990 –são disseminadores de infecções sexualmente transmissíveis(IST) como o HIV, a revista reforça estigmas há muito superados, após décadas de luta e trabalho.

Além disso – e não menos grave –, a matéria coloca em cheque a confiabilidade das novas tecnologias de prevenção hoje existentes no país.

A PrEP hoje integra uma nova estratégia do Ministério da Saúde em sua histórica resposta ao HIV: a prevenção combinada, ou a oferta de variadas alternativas de proteção contra o HIV e outras IST. A estratégia reforça o respeito às liberdades individuais, atendendo a características e momentos de vida muito pessoais de cada usuário do Sistema Único de Saúde (SUS).

A PrEP já está disponível em 11 estados, em 36 serviços brasileiros. A partir de abril deste ano, será expandido para todos os estados brasileiros – e seu impacto na redução de casos de HIV tem sido demonstrado cientificamente.  

Diferentemente do que a matéria afirma, o estudo PrEP Brasil – recentemente publicado na revista científicaThe Lancet – demonstra que a profilaxia pré-exposição ao HIV aumenta o uso do preservativo entre os que a adotam.

Ademais, o não uso da camisinha não está restrito à população gay: ao contrário, de acordo com a mais recentePesquisa de Conhecimentos, Atitudes e Práticas na População Brasileirado Ministério da Saúde, esse comportamento tem sido lamentavelmente comum em vários grupos.

Por tudo o que foi dito, está claro que o momento é de promover a disseminação de informações claras sobre as estratégias de prevenção à disposição da população brasileira – em um esforço que tem envolvido governos, gestores públicos, movimentos sociais, a academia e demais segmentos sociais. Os meios de comunicação social têm enorme responsabilidade neste processo.

O repúdio foi igualmente expresso pela pesquisadora Beatriz Grinsztejn (https://www.facebook.com/beatriz.grinsztejn/posts/1881703728508409(link is external)), pelo médico infectologista Rico Vasconcelos (https://www.revistaforum.com.br/prevencao-do-hiv-medico-infectologista-diz-se-arrepender-de-ter-dado-entrevista-a-epoca-sobre-prep/(link is external)); pela sociedade civil, como a Clínica de Infectologia Manaus (https://www.instagram.com/p/BhDKKUVlnbP/(link is external)); e por movimentos sociais como o Fórum das ONG/Aids do Estado de São Paulo (Foaesp(link is external))aqui(link is external)e a Articulação Nacional de Luta contra a Aids (Anaids) disponível no link http://www.aids.gov.br/sites/default/files/noticia/2018/65476/nota_revista_epoca_anaids.pdf, por exemplo.

É por estes motivos, principalmente – pelo desserviço que presta, e pela discriminação que reforça –, que consideramos que a matéria veiculada na revista Época pode contribuir para um retrocesso quanto à histórica luta contra o HIV em nosso país e quanto aos avanços até aqui conquistados.

Atenciosamente,

Adele Schwartz Benzaken

Diretora do Departamento de Vigilância, Prevenção e Controle das Infecções Sexualmente Transmissíveis, do HIV/IVAids e das Hepatites Virais (DIAHV) do Ministério da Saúde

Fonte: http://www.aids.gov.br/pt-br/noticias/revista-epoca