Novo tratamento para a hepatite C, a ser distribuído ainda no segundo semestre de 2015, terá preço que foi considerado muito bom pelos participantes
A delegação brasileira presente em Vancouver para o IAS 2015, um dos maiores fóruns científicos no campo do HIV e aids de todo o mundo, participou hoje de dois eventos pré-Congresso: o 2º Encontro Internacional de Coinfecção HIV/Hepatites Virais, organizado pela IAS, e a Oficina do Unicef sobre a questão da inclusão de jovens de 15 a 19 anos em programas de Profilaxia Pré-Exposição (PrEP).
No encontro sobre coinfecção, o diretor do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, Fábio Mesquita, participou do painel "Otimizando os custos do tratamento da hepatite C". Em sua palestra: "As estratégias de preço podem fazer a diferença: a experiência brasileira", Mesquita ressaltou a experiência do país na negociação com os laboratórios para reduzir os preços dos medicamentos para a hepatite C que serão ofertados no Brasil a partir deste semestre, pautada na experiência acumulada de mais de 20 anos de negociações de preços para o HIV.
O novo tratamento com antivirais de última geração, que prevê uma combinação de dois desses três medicamentos (sofosbuvir, simeprevir e daclastavir), custará o equivalente a menos de 10 mil dólares por ano, contra 20 mil da terapia tripla atual, que inclui o interferon peguilado, tratamento menos eficiente e com menor adesão dos pacientes. Em razão disso, a expectativa é oferecer 60 mil novos tratamentos pelos próximos dois anos.
O Brasil já tem tradição no assunto. Desde 1996, com a lei do acesso universal, o Brasil passou a negociar preços, trabalhar pela transferência de tecnologia e até lançar mão da licença compulsória de medicamentos (como foi o caso do efavirenz), quando necessário. O resultado dessas políticas é que, enquanto em 1996 o tratamento de um paciente de aids custava cerca de US$ 10 mil ao ano, hoje, o tratamento de uma pessoa com HIV custa US$ 100 por ano. Fabio Mesquita lembrou que o protocolo brasileiro recentemente aprovado prevê o tratamento de todos os pacientes de hepatite C coinfectados pelo HIV, pré e pós transplantados e todos pacientes com grau de fibrose 3 e 4, ou ainda 2, com exames de mais de 3 anos. Gail Matthews, da Austrália, lembrou que o vírus da hepatite C não ataca só um órgão (fígado) e apresentou um estudo sobre como a cura virológica da hepatite C também melhora as outras doenças que acometem os infectados pelo vírus HCV. Em sua palestra, Andrew Hill, do Reino Unido, afirmou que a produção de genéricos dos medicamentos da hepatite C será inevitável, seguindo a história dos medicamentos para a aids de modo ainda mais rápido.
Veja aqui a apresentação de slides mostrada por Mesquita no painel desta sexta-feira (17), em Vancouver.
Jovens e PrEP - Pela manhã, Mesquita participou de uma Oficina do Unicef para debater se jovens de 15 a 19 anos devem ser incluídos em programas sobre Profilaxia Pré-Exposição (PrEP). O diretor do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde frisou que, quando introduzida no país, a PrEP será uma profilaxia com acesso universal, conforme a lei; contudo, será preciso definir para qual público ela será voltada.
Além disso, a PrEP deve ser mais uma medida no pacote de prevenção combinada, que inclui também a testagem constante, camisinha masculina e feminina, controle de IST, prevenção da transmissão vertical do HIV, estratégias de redução de danos, PEP e TasP (tratamento como prevenção), além da necessária pavimentação ambiental.
Mesquita lembrou aos participantes da oficina que a maioria dos estudos existentes sobre PrEP no mundo não trabalha com o público de 15 a 18 anos e que os dois estudos brasileiros sobre PrEP são voltados para pessoas maiores de 18 anos.
Na oficina, Mesquita e todos os demais palestrantes afirmaram que os estudos demonstram não haver dúvida sobre a eficácia da PrEP. Numa mesa com jovens militantes da luta contra a aids, a norte-americana Cassie Warren ressaltou: "Todos sabem que a PrEP funciona, mas somente se houver acesso à profilaxia". Nos EUA, o tratamento já está disponível para quem tem plano de saúde ou tenha dinheiro para comprar o remédio usado no tratamento. Nenhum outro país do mundo oferece PrEP até o presente momento.
Neste sábado (18), a programação pré-Congresso continua. A equipe do Ministério da Saúde se dividirá entre a Oficina Pré-Congresso IAS 2015 sobre a Meta 90-90-90 da ONU: "Lições dos Países" e outras três atividades em Vancouver. A oficina será transmitida ao vivo no endereço: http://flash-vs.cfenet.ubc.ca/cfestream1.html