Fabio Mesquita participou de debate promovido durante o XIX Congresso da Sociedade Brasileira de Infectologia, em Gramado, com auditório lotado
O diretor do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, Fábio Mesquita, participou nesta quinta-feira (27) do XIX Congresso Brasileiro de Infectologia em Gramado (RS), promovido pela Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).
Mesquita debateu sobre o cuidado do HIV na atenção básica com o médico Arthur Kalichman, coordenador-adjunto do Centro de Referência e Tratamento de DST/Aids de São Paulo.
Mesquita defendeu o papel da atenção básica no cuidado compartilhado das pessoas vivendo com HIV como um passo adiante na organização de serviços, trinta anos depois do início da resposta brasileira à epidemia de HIV/aids. A criação de uma linha de cuidado compartilhado ajuda a solucionar gargalos e funciona como uma alternativa, por exemplo, para a superlotação de alguns dos serviços especializados, que demoram meses pra agendar a primeira consulta dos pacientes e têm poucos profissionais para dar conta do volume de pacientes que está crescendo no país. O Brasil tem 420 mil pessoas em tratamento antirretroviral, mas o número estimado de pessoas com HIV no país é de cerca de 700 mil.
Só em 2014, foram inclusos mais 75 mil pacientes em TARV. O número cresceu devido ao novo protocolo empregado pelo Brasil desde o final de 2013, que preconiza que todas as pessoas com HIV devem ser tratadas independentemente de sua carga viral, embora a superlotação dos serviços especializados já existisse antes de dezembro de 2013. Em julho deste ano, a Organização Mundial da Saúde anunciou que o Brasil foi um dos modelos inspiradores do novo protocolo de tratamento, que será anunciado em dezembro de 2015 e que defende que todas as pessoas com HIV devem ser tratadas globalmente.
"Um paciente estável com CD4 alto e sem coinfecções pode ser tranquilamente atendido na UBS. Isso tem funcionado bem em Curitiba, que é o padrão-ouro dessa iniciativa no país. A participação da atenção básica está em expansão aqui, no Rio Grande do Sul, no Rio, no Ceará e em outros estados. O médico infectologista dos SAEs funciona como preceptor e mentor de um processo de educação continuada dos colegas clínicos", afirmou.
Mesquita esclareceu que não há um pacote do Ministério da Saúde que "deva ser implementado amanhã cedo", mas que o cuidado compartilhado, incluindo a atenção básica, deve ser pensado como uma alternativa a ser discutida em cada município para que se torne uma parte do cuidado. "O objetivo não é transferir totalmente o cuidado para a atenção básica, já que muitos pacientes ainda necessitarão de atenção especializada", esclareceu.
Kalichman também defendeu que o cuidado não pode ficar todo com especialistas, mas defendeu que é preciso qualificar mais a atenção básica para aumentar sua participação na linha de cuidado das pessoas vivendo com HIV. Ele informou que o estado de São Paulo já tem uma linha de cuidado desenhada e discutida com todos os atores que reflete a realidade daquele estado, e concordou que o cuidado compartilhado tem de ser adaptado de acordo com a situação de cada localidade.