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Terça, 13 Outubro 2015 21:00

Por uma nova cultura para o trânsito

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Compaixão é a habilidade de ampliar a visão para enxergar as outras pessoas para além do que elas manifestam. No trânsito, entender primeiro que todas as pessoas querem chegar ao seu destino em segurança, não importa se são pedestres, se dirigem um carro, moto ou bicicleta. A mesma pessoa que anda a pé agora, pode usar bicicleta e também pode dirigir um carro ou moto. Não importa a forma como ela esteja se comportando, se é motorista exemplar ou se suas ações arriscam sua segurança e dos outros, ainda é uma pessoa.

Muitas vezes vemos o trânsito como um campo de batalha e transformamos as ruas num ambiente permeado pela violência e pela agressividade. Isso aparece muitas vezes pelo instinto de competição, pela vontade de ‘chegar na frente’, mostrar que seu carro é o mais potente ou demonstrar que se é um bom motorista. Geralmente, esse ‘bom motorista’ é entendido como o mais rápido, o mais hábil, aquele que ultrapassa e chega primeiro.

Nós colhemos todos os dias os frutos de encarar o trânsito dessa maneira: em 2014, 44.266 pessoas morreram em decorrência de acidentes de trânsito no Brasil. A cada ano 1,2 milhões de pessoas morrem em acidentes de trânsito em todo o mundo e de 30 a 50 milhões ficam feridas, segundo estimativa da Organização Mundial da Saúde.

Precisamos entender que os acidentes e a brutalidade do trânsito são um reflexo dessa forma de pensar que focaliza muito mais o “eu” do que o “nós”, mais o individual do que o coletivo. Pensar e trabalhar pelo bem da coletividade é o melhor. Assim, é necessário encontrarmos formas de falar sobre isso, identificar internamente os sentimentos que dão suporte à violência e transformá-los tanto individualmente, quanto coletivamente.

Há os erros comuns de trânsito que são fruto de desatenção ou de falta de habilidade. E há erros que são acintosamente cometidos. Quem nunca se deparou com alguém que excede a velocidade máxima da via, ‘costura’ no trânsito, pressiona os carros da frente para dar passagem, ‘fura’ o sinal vermelho ou reduz a velocidade para a permitida apenas quando se depara com um radar de trânsito?

Precisamos compreender que os números assustadores da violência no trânsito também se relacionam com nossos comportamentos, com nossas escolhas pessoais e que precisamos mudar a cultura simplesmente porque da forma como estamos fazendo, colhemos resultados muito ruins.

O que nós temos hoje: um ambiente de trânsito ruim, violento e que gera muitas mortes e sofrimento. Esse é o diagnóstico. E o que precisamos fazer para mudar essa situação?Nas grandes metrópoles brasileiras as ruas estão abarrotadas de veículos, principalmente de carros de passeio e isso não aconteceu da noite para dia. É o resultado de escolhas de governos há décadas, privilegiando o modelo de transporte individual em detrimento do coletivo. Por outro lado, a falta de qualidade do transporte público pressionou as pessoas a se endividar financiando veículos. Nos últimos anos esse modelo foi colocado em xeque, pois as pessoas começaram a perceber que não funciona. No âmbito federal, a Política Nacional de Promoção da Saúde, a Política Nacional de Redução de Morbimortalidade por Acidentes e Violências e a Política Nacional de Mobilidade Urbana são símbolos dessa mudança de paradigma, ainda em curso. Em âmbito municipal, diversas cidades já vêm atuando pela democratização do espaço viário com prioridade nos pedestres e nos modos não motorizados de transporte.

Há muitas pessoas que estão vendo a necessidade de mudança. Um sinal disso são os adesivos colados nos vidros dos carros “GENTILEZA GERA GENTILEZA”. Claro que essa gentileza não pode se restringir ao trânsito, mas deve permear todas as nossas relações. Ao mesmo tempo, não podemos ser gentis e pacíficos em todos os campos das nossas vidas e excluir o trânsito. Isso seria parecido com um desenho animado dos anos 80 em que o personagem Pateta era um homem amável, tranquilo e trabalhador até que pegava o volante do carro e se transformava literalmente num monstro que buzinava, perseguia e corria aterrorizando todas as outras pessoas.

Para gerar a mudança de cultura necessária precisamos individualmente fazer melhores escolhas e ocupar os espaços de controle e de participação social. Trazer valores humanos para o trânsito é uma missão pública, que não se restringe aos cidadãos e cidadãs individualmente nem aos governos tão somente. Nossa saúde e segurança estão em jogo e por isso precisamos construir uma nova cultura de trânsito, que tenha a paz como pressuposto e como objetivo.

Fonte: http://promocaodasaude.saude.gov.br/promocaodasaude/assuntos/incentivo-a-seguranca-no-transito/noticias/por-uma-nova-cultura-para-o-transito