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Terça, 24 Abril 2018 14:10

Audiência pública sobre produção de medicamento contra gonorreia conta com participação de apenas um laboratório

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Outras sete empresas e Associação dos Laboratórios Farmacêuticos Oficiais do Brasil também foram convidadas pelo DIAHV

Apenas uma das oito empresas farmacêuticas convidadas pelo Departamento de IST, HIV/Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde (DIAHV) compareceu à audiência pública realizada na última terça-feira (17), em Brasília, sobre a produção do medicamento cefixima no Brasil. A Associação dos Laboratórios Farmacêuticos Oficiais do Brasil (Alfob) também foi chamada, mas não enviou representante.

O objetivo da audiência foi discutir com as empresas - possíveis fornecedores – o aparente desinteresse pela fabricação do medicamento, já que sua comercialização é necessária no país. A cefixima é usada no tratamento da gonorreia, umas das infecções sexualmente transmissíveis que mais vem apresentando resistência aos antibióticos nos últimos anos.  A cefixima ainda não tem registro válido na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), até o momento. Além disso, também foi abordado sobre a ceftriaxona 500mg intramuscular que, embora tenha registros na Anvisa, o fármaco não se encontra disponível num quantitativo suficiente para atender a demanda do tratamento da gonorreia.

“O Brasil é um dos poucos países do mundo que não tem empresas interessadas na fabricação ou no fornecimento desse medicamento: parece que não existe interesse da indústria farmacêutica pelo tratamento da gonorreia”, observou a diretora do DIAHV, Adele Benzaken.

O representante da Cristália Produtos Químicos Farmacêuticos, a única a comparecer à audiência, disse que “a empresa irá realizar estudos internos para avaliar as possibilidades e a viabilidade de comercialização do medicamento”.

Estima-se que mais de 1 milhão de novos casos de Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST) ocorram diariamente em todo o mundo. No Brasil, a estimativa é de 498 mil novos casos de gonorreia por ano - sendo 55% em mulheres e 45% em homens. Os dados são de 2012.

SOBRE A CEFIXIMA - Conhecida comercialmente como cefnax, a cefixima é um antibacteriano de uso oral, que tem maior adesão por parte dos pacientes em relação aos medicamentos injetáveis. Estudos da Organização Mundial de Saúde (OMS) identificaram que até 20% das pessoas recusam-se a tomar medicamentos injetáveis para sífilis, o que faz a entidade avaliar que o mesmo ocorra com o tratamento para gonorreia. Além disso, alguns profissionais de saúde, na prática, são avessos a aplicar injeções, além de alegarem aumento do tempo do trabalho. Instituições de saúde também preferem o uso de medicamentos via oral, pois consideram que a administração intramuscular encarece os serviços de assistência.

SENGONO – Entre 2016 e 2017, em caráter inédito, o Ministério da Saúde, por meio do DIAHV, estabeleceu parceria com a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e sítios de coleta para realização do projeto SenGono – estudo nacional de vigilância da resistência das cepas de gonorreia circulantes no Brasil.

Projeto SenGono analisou cepas provenientes de sete locais de coletas - Porto Alegre, Florianópolis, São Paulo, Belo Horizonte, Brasília, Salvador e Manaus – distribuídos em todas as regiões do país, e constatou-se resistência, já bem estabelecida do gonococo à sulfas, tetraciclinas e penicilinas. Além disso, evidenciou-se uma resistência emergente e em franca expansão ao ciprofloxacino, com taxas próximas e até superiores a 50% em todas as regiões do país. As cefalosporinas de terceira geração - ceftriaxona e cefixima - também foram testadas, e não foram encontradas cepas resistentes a essa classe de fármaco. Corroborando os dados da OMS que recomenda esas cefalosporinas de terceira geração como opção para o tratamento da gonorreia em substituição ao ciprofloxacino.

Os resultados do estudo culminaram na atualização da recomendação nacional para o tratamento da gonorreia. De acordo com Nota Informativa nº 6, publicada em 26 de julho de 2017, o esquema terapêutico preferencial preconizado para a infecção gonocócica anogenital não complicada (uretra, colo do útero e reto) em todo o país deve ser constituído pela terapia dupla de ceftriaxona 500mg intramuscular (IM) associada à azitromicina 1g (VO) em dose única.

A cefixima, embora seja utilizada mundialmente para o tratamento da gonorreia, não foi inserida na recomendação devido à ausência de registros válidos na Anvisa.

Fonte: http://www.aids.gov.br/pt-br/noticias/audiencia-publica-sobre-producao-de-medicamento-contra-gonorreia-conta-com-participacao-de